13 de janeiro de 2014

22 livros que são diamantes para o cérebro

Fonte: Revista Bula

Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe

Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister
O livro de Johann Wolfgang von Goethe “criou”, segundo Marcus Vinicius Mazzari, “o gênero que mais tarde foi chamado de ‘romance de formação’ (Bildungsroman), a mais importante contribuição alemã à história do romance ocidental. (…) Goethe empreendeu a primeira grande tentativa de retratar e discutir a sociedade de seu tempo de maneira global, colocando no centro do romance a questão da formação do indivíduo, do desenvolvimento de suas potencialidades sob condições históricas concretas”. (Editora 34, tradução de Nicolino Simone Neto.)





A Consciência de Zeno, de Italo Svevo

A Consciência de Zeno
Svevo às vezes é mais citado como “o” amigo italiano de James Joyce. O irlandês foi seu professor de inglês. Poucas vezes um burguês foi retratado com tanta felicidade quanto neste romance. Zeno, um fumante inveterado — nada politicamente correto —, submete-se à psicanálise e, em seguida, desiste, porque deixa de acreditar na “ciência” de Freud. O livro é de 1923. Zeno, grande personagem, faz um mergulho poderoso na sua própria vida. Otto Maria Carpeaux qualificou o romance de “genial”. (Tradução de Ivo Barroso. Editora Nova Fronteira.)

Folhas de Relva, de Walt Whitman

Folhas de Relva
Walt Whitman não é “um” e sim “o” poeta norte-americano. Segundo Otto Maria Carpeaux, é um “poeta para poetas”. Dado o uso intensivo do verso livre, que ele “criou” como um método — então novo e rebelde em relação à poesia metrificada —, o poema longo de Whitman deveria ser de fácil acesso. Se fosse russo, seria cantado nas ruas, como se faz com Púchkin. A dificuldade teria a ver mais com o poema longo do que com o poema em si? Pode ser. O que a poesia de Whitman exige é um leitor atento. Harold Bloom o apresenta como “fundador” da poesia americana. “O” poeta. Há algumas traduções no Brasil. As mais citadas são as de Bruno Gambarotto (Hedra), Rodrigo Garcia Lopes (Iluminuras) e Geir Campos (Civilização Brasileira). Há uma da Editora Martin Claret.

A Montanha Mágica, de Thomas Mann

A Montanha Mágica
É o segundo grande romance de formação alemão. O livro conta a história do jovem Hans Castorp, que, ao visitar uma clínica para tuberculosos na Suíça, amadurece, participa de debates filosóficos. Enfim, vive e cresce. Mann escreveu: “E que outra coisa seria de fato o romance de formação alemão, a cujo tipo pertencem tanto o ‘Wilhelm Meister’ como ‘A Montanha Mágica’, senão uma sublimação e espiritualização do romance de aventuras?” (Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro.)

A Lebre Com Olhos de Âmbar, de Edmund de Waal

A Lebre Com Olhos de Âmbar
O romance de Wall parece, à primeira vista, um trabalho de arqueologia literária escrito por uma sensibilidade do século 19. Há, aqui e ali, uma percepção meio proustiana da vida. Porém, a obra é de 2010. O belíssimo livro, escrito por alguém que tem a percepção de que Deus às vezes está nos detalhes, ganhou elogios de pesos pesados. “De maneira inesperada, combina a micro arte das miniaturas com a macro história, em um efeito grandioso”, disse Julian Barnes. “Uma busca, descrita com perfeição, de uma família e de um tempo perdidos. A partir do momento em que você abre o livro, já está numa velha Europa inteiramente recriada”, afirma Colm Tóibín. (Tradução de Alexandre Barbosa de Souza. Editora Intrínseca.)

Guerra e Paz, de Liev Tolstói

Guerra e Paz
Se tivesse lido cuidadosamente o romance “Guerra e Paz” — literatura e história —, Adolf Hitler não teria invadido a União Soviética, em 1941, ou seja, 129 anos depois, mas com os mesmos resultados funestos das tropas de Napoleão Bonaparte. Liev Tolstói examinou a história cuidadosamente e escreveu um romance poderoso a respeito da invasão napoleônica de 1812. Seu trabalho literário rivaliza-se com as melhores histórias sobre o assunto. Detalhe: além da guerra, ele examina minuciosamente a vida civil do período. Como complemento, o leitor pode consultar “1812 — A Marcha Fatal de Napoleão Rumo a Moscou”, de Adam Zamoyski. (Tradução de Rubens Figueiredo, a única feita a partir do russo. Editora Cosac Naify.)

Paradiso, de Lezama Lima

Paradiso
Trata-se do mais importante romance escrito por um cubano. Lezama Lima é o James Joyce ou o Guimarães Rosa de Cuba. Sua prosa barroca é densa, às vezes de difícil apreensão, mas uma leitura cuidadosa, observando-se seus vieses, leva o leitor ao paraíso. Julio Cortázar escreveu sobre o livro: “‘Paradiso’ é como o mar… Surpreendido em um começo, compreendo o gesto de minha mão quando toma o grosso volume para olhá-lo uma vez mais; este não é um livro para ler como se leem os livros, é um objeto com verso e reverso, peso e densidade, odor e gosto, um centro de vibração que não se deixa alcançar em seu canto mais entranhado se não se vai a ele com algo que participe do tato, que busque o ingresso por osmose e magia simpática”. (Brasiliense, com tradução de Josely Vianna Baptista. A poeta refez a tradução, mas um imbróglio jurídico a impede de publicá-la.)

Enquanto Agonizo, de William Faulkner

Enquanto Agonizo
“O Som e a Fúria”, de William Faulkner, é o “Ulysses” norte-americano. Mas o escritor que resgatou a história do sul profundo dos Estados Unidos por meio da literatura tem um romance menor (em tamanho) e de alta qualidade — “Enquanto Agonizo”. Neste livro, todos os personagens têm vozes, apresentadas em igualdade de condições. As vozes parecem um coro e as pessoas estão carregando um caixão, com o corpo da matriarca da família, mas é como se não saíssem do lugar. (Tradução de Wladir Dupont, L&PM.)

Aquela Confusão Louca da Via Merulana, de Carlo Emilio Gadda

Aquela Confusão Louca da Via Merulana
James Joyce “inventou” clones em alguns países: William Faulkner, nos Estados Unidos, e Guimarães Rosa, no Brasil, são, quem sabe, os mais conhecidos. Chamá-los de clones contém um certo desrespeito, mas, sem Joyce, Guimarães Rosa certamente teria sido um José Lins do Rego melhorado. Assim como Faulkner seria um Mark Twain mais denso. Mas pode-se falar num Joyce italiano? É possível. Carlo Emilio Gadda, autor de “Aquela Confusão Louca da Via Merulana” (Record, tradução de Aurora Bernardini e Homero de Freitas Andrade), é uma espécie de Joyce que “canibalizou” Rabelais. É visto como intraduzível. Acima de tudo, é um belíssimo escritor, autor de histórias fortes contadas de modo inventivo e de uma maneira às vezes frenética.

Três Tristes Tigres, de Guillermo Cabrera Infante

Três Tristes Tigres
O livro é uma orgia linguística e, por isso, às vezes assusta o leitor desavisado. Mas, se passar da página 50, o leitor não vai mais parar a leitura deste livro de arquitetura perfeita, que não se revela assim, dada sua fragmentação. Cabrera Infante diverte o leitor, em cada página, ao resgatar, com precisão, a oralidade e a vida comum e a vida cultural de Cuba. Logo no início, no qual há mistura de línguas, Carmen Miranda e Joe Carioca são citados. Oswald de Andrade veria, neste belíssimo romance, a antropofagia trabalhada com mestria. (Luís Carlos Cabral traduziu o romance com rigor, decifrando ao máximo suas muitas dificuldades linguísticas e culturais. José Olympio Editora.)

A Branca Voz da Solidão, Emily Dickinson

A Branca Voz da Solidão
Esclareça-se: a poeta norte-americana Emily Dickinson não publicou nenhum livro. Seus quase 2 mil poemas foram publicados depois de sua morte, em 1886. Ela tem sido bem traduzida no Brasil, desde Manuel Bandeira até Augusto de Campos e Aíla de Oliveira Gomes. Mas ninguém fez tanto pela poesia de Emily Dickinson no Brasil quanto José Lira, tradutor desta coletânea. Lira não introduziu sua poesia no país, mas pode-se dizer que a consolidou — tanto com as traduções inventivas quanto com a crítica refinada. Outro livro traduzido por ele: “Emily Dickinson: Alguns Poemas”. (Editora Iluminuras.)

Vida Querida, de Alice Munro

Vida Querida
Alice Munro é uma das maiores escritoras canadenses. É considerada como a Tchekhov da América, embora seja menos ousada do que o russo. Seus contos são romances em miniatura, amplamente desenvolvidos e, às vezes, sutis. Neste livro, além dos contos, há narrativas autobiográficas — um artifício inteligente no qual se usa a ficção para iluminar pedaços sempre escuros da vida dos indivíduos. (Tradução de Caetano W. Galindo, Companhia das Letras)

Sagarana, de Guimarães Rosa

Sagarana
Todos sabem: a obra-prima de Guimarães Rosa é “Grande Sertão: Veredas”, o romance brasileiro que mais dialoga com a literatura internacional — e sem submissão. Nos contos não há a mesma invenção, aquela linguagem rodopiante, que às vezes deixa o leitor tonto. Ainda assim, os contos de “Sagarana” merecem uma leitura atenta, alguns são “Pequenos Sertões: Veredas”. Alguém é capaz de ler e esquecer, por exemplo, “A hora e a vez de Augusto Matraga” e “Corpo Fechado”? (Editora Nova Fronteira)

Memorial de Aires, de Machado de Assis

Memorial de Aires
Se der ouvidos a certa crítica, o leitor patropi passará a acreditar que Machado de Assis só escreveu três romances: “Dom Casmurro”, “Quincas Borba” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. O mago dos contos raramente é citado, exceto por alguns especialistas, como o inglês John Gledson. Mas há um “romancinho” de Machado de Assis que é maravilhoso. “Memorial de Aires” é muito bem escrito. É de uma sutileza rara no panorama cultural brasileiro. E, claro, é divertido, talvez porque menos “pretensioso” (a grande arte é sempre pretensiosa) do que as obras-primas “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

Reparação, de Ian McEwan

Reparação
Pense em Ian McEwan como uma espécie de Henry James modernizado, pós-jazz e pós-rock. O autor, talvez o mais refinado escritor inglês vivo — acima de pares como Martin Amis e Julian Barnes (este, às vezes subestimado, ao menos no Brasil) —, aparentemente mistura, aqui e ali, tanto Virginia Woolf quanto Henry James em suas histórias. Mas sua dicção para mostrar a ambivalência dos indivíduos é moderna, não é do século 19, quando James, o Henry, se formou. McEwan conta, em “Reparação”, uma história extraordinária, mas o modo como a relata, com personagens “manipulados” pelo meio e pelas próprias personagens, ou por uma delas, é que torna o romance interessante. Fica-se com a impressão de que há duas histórias — uma dominante e uma alternativa. O que é e o que poderia ter sido.

Ulysses, de James Joyce

Ulysses
É o romance dos romances. Não é à toa que o idiossincrático Harold Bloom — que avalia que Shakespeare é Deus, e não apenas da literatura, pois teria inventado o homem que se tem hoje nas ruas — considere James Joyce como um par do autor de “Hamlet” e “Rei Lear”. “Ulysses” reinventa o romance moderno, tornando os posteriores espécies de sombras, não raro pálidas. Mesmo quem não o segue, rumando para outra estética, acaba se tornando tributário. As três traduções são de Antônio Houaiss (Civilização Brasileira), Bernardina Pinheiro (Objetiva) e Caetano W. Galindo (Companhia das Letras).

São Bernardo, de Graciliano Ramos

São Bernardo
O romance mais importante de Graciliano Ramos é “Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num tempo de hegemonia dos estudos de gênero — que matam a literatura em nome de uma ideologia primária —, nada mais significante do que indicar “São Bernardo”. Este livro, se as feministas atuais lessem — as que leem são exceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma bíblia sem concessões moralistas. Poucos autores patropis, mesmo entre as mulheres, construíram tão bem um homem autoritário, até totalitário, quanto o Velho Graça. (Editora Record)

Retrato de uma Senhora, de Henry James

Retrato de uma Senhora
Mestre da ambiguidade, Henry James construiu romances de alta voltagem sobre grandes mulheres, americanas ou inglesas. Pode-se dizer, até, que suas mulheres, sempre mais sutis, são mais bem construídas do que as personagens masculinas. Neste romance, há uma grande personagem, Isabel Archer. O leitor poderá sugerir: “Mas ela é enganada por um homem”. Por certo, é. Mas permanece como uma grande personagem. Este livro — ao lado de “As Asas da Pomba” — deveria ser lido por todos os leitores, sobretudo pelas mulheres. Os homens deveriam amarrá-las para que lessem esta obra-prima? Nem tanto. É crime. A Lei Maria da Penha é um perigo. (Companhia das Letras, tradução de Gilda Stuart.)

Conversa no Catedral, de Mario Vargas Llosa

Conversa no Catedral
O percurso literário de Vargas Llosa é curioso. Começou como um autor inventivo, na linhagem de Faulkner, e se tornou, nos romances mais recentes, um escritor mais tradicional, tão límpido quanto, digamos, Flaubert. Tornou-se um grande narrador clássico, mais acessível. Seu romance mais experimental é “Conversa no Catedral”, no qual diálogos de personagens diferentes são misturados, numa bela orgia linguística. É como se o Nobel de Literatura nos dissesse que a Linguagem é uma personagem tão ou mais importante do que Santiago e Ambrosio. (Alfaguara, tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht.)

Poesia 1930-1962, de Carlos Drummond de Andrade

Poesia 1930-1962
O poeta Carlos Drummond de Andrade talvez tenha apenas dois rivais em língua portuguesa — Camões e Fernando Pessoa. No Brasil, quem mais se aproximou, a uma distância de 10 mil quilômetros, foi João Cabral de Melo Neto. Ninguém mais. “Poesia 1930-1962 — Edição Crítica” contém o que há de melhor do escritor mineiro. É, digamos, sua bíblia. Aí está o Drummond, modernista total, de corpo e alma. Como presente de Natal, o preço é salgado, 179 reais, mas a edição, caprichada, vale a pena. O preço será esquecido, mas o presenteador e o livro decerto jamais serão olvidados. (Editora Cosac Naify)

O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzatti

O Deserto dos Tártaros
O maior crítico brasileiro Antonio Candido aponta o romance do escritor italiano como um dos mais importantes da história da literatura. Fica-se com a impressão de que a história não anda, ou que anda para trás, ou melhor, que a personagem central, o tenente Giovanni Drogo, espera tanto que insinua-se paralisada, como se a história estivesse estancada. De permeio, a linguagem refinada de Dino Buzatti. (Editora Nova Fronteira, tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero de Freitas Andrade.)

Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust

Em Busca do Tempo Perdido
Harold Bloom percebe Marcel Proust como o maior escritor francês, acima de Flaubert, o “santo” de devoção de Mario Vargas Llosa. Proust não sabia avaliar se “Em Busca do Tempo Perdido” era um romance, ou algo mais. Talvez seja muito mais do que um romance. Quiçá uma bíblia da civilização humana, mais do que da francesa. Ciúme, memória-tempo, amizade, sexualidade — eis alguns dos temas candentes do escritor. Duas editoras se encarregaram de traduzir a obra-prima, a Globo e a Ediouro. No time de tradutores da Globo estão Mario Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Fernando Py enfrentou solitariamente as centenas de páginas de um autor de prosa densa (quem só defende literatura concisa não sabe a delícia que é Proust). Mario Sergio Conti prepara a terceira tradução para a Companhia das Letras.

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