4 de julho de 2013

Erros científicos e históricos que os filmes exibiram nos últimos anos

Fonte: SuperInteressante

MELANCOLIA (2011) - Astronomia da depressão
No filme, um planeta chamado Melancolia entra em rota de colisão com a Terra e destrói tudo o que chamamos de lar. É uma boa premissa, se não mostrasse as pessoas vivendo normalmente até a chegada do corpo celeste. "Só a aproximação de uma massa tão grande já nos traria grandes problemas por causa da atração gravitacional", diz Cláudio Furukawa, do Instituto de Física da USP. Segundo ele, o primeiro sinal que sentiríamos seria o aumento da força das marés. "Se a aproximação fosse na linha do Equador, a maré se movimentaria nessa direção e os países próximos seriam inundados, enquanto os pólos ficariam sem água. Mas, se a aproximação fosse em um dos pólos, o resto dos oceanos ficaria seco", explica. Também morreríamos por falta de ar antes do impacto, porque a atmosfera seria atraída pelo mesmo motivo (embora com muito menos intensidade, já que a densidade do ar é quase mil vezes menor que a da água). Outra coisa: um planeta vindo fazer uma visita seria visto com décadas de antecedência. Mesmo estando escondido atrás do Sol, como afirma o filme, por causa do movimento de translação.
1. As marés inundariam boa parte da Terra antes do choque.
2. Os outros pedaços do planeta ficariam sem água.

3. A atmos-fera seria levada embora antes do impacto.
4. Um planeta seria visto com anos de antecedência.



O DISCURSO DO REI (2010) - Gago e nazista?
A história gira em torno da ascensão do rei George VI e de sua dificuldade em fazer discursos sem gaguejar. No final do filme, o rei consegue não só completar um discurso do começo ao fim, como também inspirar os milhares de britânicos que o ouvem do lado de fora do Palácio de Buckingham a apoiar a entrada da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial. George VI de fato era gago e conduziu a Inglaterra contra a Alemanha de Hitler, mas o que o filme não mostra é que o monarca bem que flertava com o antissemitismo. Documentos liberados pela Casa de Windsor, em 2002, tratam da decisão do rei de barrar a entrada de judeus fujões na Palestina, na época sob seu controle. Ele chegou a enviar cartas ao ministro das relações exteriores, Lord Halifax, congratulando pelo banimento.


MARIA ANTONIETA (2006) - Questão de encaixe
O filme mostra o rei Luis XVI afeminado e pouco interessado em cumprir suas obrigações como marido na cama. Mas alguns pesquisadores mostram que a incompatibilidade sexual do casal não acontecia porque os dois gostassem de homens. Na biografia Marie-Antoinette, l¿insoumise ("Maria Antonieta, a rebelde", sem tradução no Brasil), a historiadora Simone Bertière revela que o rei possuía um "pênis extremamente grosso" enquanto a rainha era dotada de uma "vagina incomumente estreita". As peças simplesmente não encaixavam. Segundo Bertière, fazer sexo era um ato doloroso para ambos. Como a consumação do casamento era importante para uma aliança militar entre França e Áustria, muitos boatos surgiram. A relação só foi consumada depois de mais de dois anos.


OS VINGADORES (2012) - Explosão de explosões
Aqui o erro não é apenas de um filme, mas de toda uma coleção de filmes de ação que mostram carros explodindo em labaredas gigantescas. Na vida real, é muito difícil um carro entrar em combustão - tanques de gasolina não têm o hábito de se autodestruir. Para que haja uma explosão, é preciso que uma série de condições estejam alinhadas. No livro Insultingly Stupid Movie Physics (algo como "A física estúpida dos filmes", sem tradução no Brasil), o físico Tom Rogers explica que um carro destruído só explode se uma chama conseguir entrar diretamente no tanque de gasolina - o que é bem difícil porque a vedação é reforçada. Outra maneira, um pouco mais provável, seria se uma grande chama em contato com a parte externa do tanque evaporasse a gasolina que há lá dentro e criasse uma pressão enorme. Mas mesmo assim, bastaria uma pequena brecha para o vapor escapar e o carro não explodir. A maioria dos incêndios começa no motor e não se espalha para a área do tanque. Logo, quando uma pessoa sofre um acidente, é mais fácil que ela tenha uma lesão na coluna ao tentarem retirá-la do carro às pressas do que ela morrer em uma explosão. Fica a dica, Vingadores.
1. Para que haja uma explosão, uma chama teria de entrar diretamente no tanque.
2. Mesmo se a pressão dentro do tanque estiver alta, basta uma brecha para evitar a combustão.
3. Se um carro pega fogo, geralmente o motor é a parte mais afetada.



GLADIADOR (2000) - Parla!
Não dá para entender por que, no ano de 180 d.C., alguém gritaria "Mamma! I soldati!" em italiano perfeito em um filme falado em inglês em uma época que a língua usada era o latim. Pois foi o que o filho do gladiador Maximus fez ao ver os soldados se aproximarem de sua casa. Outra escorregada acontece quando falam de cristianismo. Em uma conversa, o gladiador descobre que a irmã do imperador Commodus reza pela sua família. Em seguida, Maximus também reza pela sua e deixa escapar um "Pai Celestial". O cristianismo já estava à espreita naquele tempo, mas não passava de uma religião subversiva que ameaçava a mitologia romana dos deuses e deusas.


10 000 A.C (2008) - Samba do mamute louco
Apesar de parecer, este filme não tem nada de histórico. A começar pelos mamutes ajudando humanos a construírem pirâmides. Ok, homens chegaram a caçar mamutes no período Paleolítico, como é possível ver em pinturas rupestres. Mas adestrá-los e fazê-los trabalhar? "Mamutes não foram domesticados, portanto não podem ter sido usados como mão de obra na construção das pirâmides", alerta Marcelo Rede, professor de história antiga da USP. Até porque sequer existiam pirâmides naquela época. "As grandes pirâmides, como as famosas Keops, Kefren e Mikerinos, datam de 2600 a 2450 a.C.", explica o historiador. Ou seja, conseguiram errar até no nome do filme.


PLANETA DOS MACACOS (1968, 2011) - Evolução a jato
Para explicar os erros desse filme, vamos ter de caprichar nos spoilers. O filme original traz um erro que a versão de 2011 tenta consertar. Na versão de 1968, uma expedição espacial passa 18 meses longe da Terra até finalmente cair em um planeta dominado por macacos superdesenvolvidos. No final, descobre-se que o tal planeta era a Terra, 2 mil anos no futuro. Assim, o enredo ficava sem pé nem cabeça: 2 mil anos não é tempo evolutivo suficiente para macacos se tornarem inteligentes. É só comparar com a nossa espécie: o Homo sapiens surgiu há 200 mil anos, mas os primeiros registros de arte ou religião datam de 50 mil anos atrás. E outros milhares se passaram antes de inventarmos a escrita, as cidades e a tecnologia avançada. Por isso, Planeta dos Macacos: A Origem, de 2011, explica que o salto de inteligência não aconteceu sozinho - os macacos teriam sido expostos a um gás que os tornou mutantes. Muuuito melhor.

1. Apenas 2 mil anos se passaram para que os macacos ficassem inteligentes.
2.  Em termos evolutivos, é preciso milhares de anos para que haja um salto de inteligência.



JURASSIC PARK (1993) - Dna com data de validade
Tudo bem um dinossauro usar a maçaneta para abrir uma porta ou derrubar a parede de um banheiro com um salto. Isso é coisa de filme. O difícil é existir um dinossauro nas condições propostas em Jurassic Park. No longa, os animais são recriados a partir de sangue de dinossauro encontrado em mosquitos preservados no âmbar. Até aí, ok: alguns mosquitos de 230 milhões de anos realmente foram encontrados no âmbar, como mostra um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Por isso, desde a década de 1990, havia um boato de que seria possível recriar dinos dessa forma. O biólogo Michael Bunce, da Universidade de Murdoch, na Austrália, resolveu testar essa possibilidade. Ele estudou o sangue de aves gigantes já extintas e constatou que DNA não é eterno. No caso, as moléculas de DNA não durariam mais de 6,8 milhões de anos, mesmo conservadas em âmbar. "O DNA se deteriora com o passar do tempo, muito antes de ser possível recriar um dinossauro hoje em dia", diz Bruce Whitelaw, professor de biotecnologia do Instituto Roslin, no Reino Unido. Aliás, o próprio nome do Jurassic Park está todo errado. A era Mesozoica, a que viu o surgimento e o desaparecimento dos dinossauros, é dividida em três grandes períodos de tempo: o Triássico, o Jurássico e o Cretáceo. De fato, os dinos apareceram no período Jurássico, mas as espécies que fazem as vezes de atores principais no filme, como o Tiranossauro, o Velociraptor e o Triceratops, surgiram apenas no Cretáceo. Cretaceous Park talvez não tivesse sido tão sonoro. Mas seria mais correto.
1. O DNA não dura mais do que 6,8 milhões de anos.
2. Os dinos não são do período jurássico, mas do cretáceo.



ALIEN - A RESSURREIÇÃO (1997) - DNA desmemoriado

Imagine morrer e ressuscitar em um corpo igualzinho ao seu, carregando toda a memória da vida que passou. Foi o que aconteceu em Alien - A Ressurreição. (Pare de ler se não quiser spoilers.) No final do terceiro filme da franquia, a tenente Ripley se lançou ao fogo quando descobriu que era hospedeira da raça alienígena. Já no quarto filme, ela acorda 200 anos depois, clonada e com a mesma memória. O problema é que o DNA não guarda lembranças. A ovelha Dolly não se lembrava dos pastos por onde andou Belinda, sua matriz. "Um clone é apenas uma cópia do material genético. O ambiente e as experiências de vida é que formam a memória ", diz Bruce Whitelaw, do Instituto Roslin, responsável pela clonagem de Dolly. Logo, se dependesse da ciência, Alien jamais teria uma quarta sequência.


GUERRA NAS ESTRELAS (1977) - O som do silêncio
Apesar da aura cult que ganhou, Guerra nas Estrelas conseguiu cair em quase todos os erros de filmes de espaço. O primeiro é o barulho de explosões e naves. "Apesar de haver ondas de choque que se propagam no espaço após uma detonação, nós não conseguiríamos ouvir nada", garante o físico Cláudio Furukawa, do Instituto de Física da USP. Como ele explica, depois de uma explosão, plasma e ondas eletromagnéticas geradas até se propagariam no espaço, mas elas não emitiram sons, já que o barulho precisa de matéria para se espalhar. E o espaço, é claro, é formado quase todo de vácuo. Aliás, esse é o motivo pelo qual sequer haveria explosões por lá. Sem oxigênio, não há fogo - e assim não teria como a Estrela da Morte, por exemplo, entrar em combustão. Só haveria a chance de alguma coisa explodir se os detonadores fossem nucleares. "Uma bomba nuclear não precisa de oxigênio", explica o físico. A detonação seria um clarão como um flash e haveria grande emissão de partículas radioativas. Mas não haveria nem fogo, nem barulho algum. O terceiro erro está nos tão amados sabres de luz. De acordo com a ciência, essas armas são impossíveis de existir. "Seria difícil fazer a luz se comportar como um sabre, a não ser que houvesse um espelho na extremidade oposta ao emissor para refleti-la de volta", diz Furukawa. Sem nada para rebater, a luz se propagaria ao infinito e além, acabando assim com a graça daquelas lutinhas coreografadas.
1. Explosões precisam de oxigênio. Para haver uma no espaço, somente com armas atômicas.
2. O som também não se propaga no vácuo. Ou seja, é impossível ouvir o barulho das naves.
3. Os sabres de luz não poderiam existir. A luz se espalha em feixes infinitos, e não limitados.



WATERWORLD - O SEGREDO DAS ÁGUAS (1995) - O sertão não é mar
"No futuro, as calotas polares derreteram e cobriram a Terra de água. Aqueles que sobreviveram tiveram que se adaptar ao novo mundo." É o que afirma a cena de abertura de Waterworld. Segundo o filme, o culpado por esse apocalipse molhado foi o aquecimento global. Mas isso não passa de ficção. "Este cenário é completamente irrealista nos próximos 500 anos", tranquiliza o especialista em meio ambiente Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP. Ele garante que, se uma catástrofe como essa acontecesse, seria muito difícil a água inundar lugares com mais de 200 metros de altitude. São Paulo, Belo Horizonte e Brasília estariam a salvo. E boa parte do resto do planeta também: a média de altitude da terra firme é de 840 metros. Poderíamos ter o passado como base, quando o gelo da Groenlândia e do oeste da Antártida derreteu completamente, há 400 mil anos. Segundo um estudo publicado na revista Nature, a elevação do nível do mar naquela época ficou entre 6 e 13 metros. Ou seja, seria uma catástrofe, mas não o suficiente para botar o mundo embaixo da água e criar mutantes com guelras.

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